Um Framework de Climate-Tech
Climate-tech é definido como tecnologias explicitamente focadas na redução das emissões de GEE ou na abordagem dos impactos do aquecimento global. Se uma tecnologia tem algo a ver com a solução de qualquer aspecto do problema complexo e multifacetado das mudanças climáticas (que vai desde o agronegócio, passando por biodiversidade e monitoramento de desastres, até materiais alternativos), então essa tecnologia pode ser considerada uma Climate-tech. É preciso sempre levar em conta os dois pilares: a tecnologia (como veículo) e a redução dos impactos do aquecimento global. Parece fácil? Sim e não.
A dificuldade surge porque as mudanças climáticas, tanto pela instabilidade que causam quanto pelo risco existencial que geram, demandam uma forma completamente nova de manufaturar produtos, fazer negócios e de viver as nossas vidas. Da mesma forma que a internet mudou tudo, a lente de Climate-tech mudará tudo. Lembrem-se: Se a sua história não contempla clima, ela é ficção cientifica.
Como, então, mapear uma área tão grande?
Vamos começar pelo começo:
O John Holdren, ex-assessor científico do Presidente Obama, resumiu bem que essencialmente temos três opções quando falamos da crise climática: Mitigação, Adaptação ou Sofrimento.
Mitigar significa atenuar. Quando se trata de mudança climática, a mitigação está relacionada à diminuição da emissão de gases do efeito estufa. A adaptação se refere a antecipar os efeitos das mudanças climáticas e gerar um bom planejamento para lidar com as consequências. E sofrer, bem, todo mundo sofre (obrigada Marília).
Vamos ter que encarar um pouco de cada. A pergunta que a comunidade de clima tem feito é: quanto de cada? Mitigando mais, precisaremos nos adaptar menos e, espera-se, sofreremos menos.
Considerando a trajetória de esforços para mitigação até hoje, tudo indica que vamos ter que investir bastante em adaptação também.
Agora, como mitigar?
Para isso, vale lembrar da analogia da banheira: imagine o mundo como uma banheira. A nossa quantidade de GEE na atmosfera é a água na banheira. A banheira já está cheia até o talo. Não tem como entrar, nem como usar.
Temos duas opções: tirar a tampa e/ou fechar a torneira. Dado que a água já está quase vazando, precisamos fazer os dois. Fechar a torneira é equivalente a emitir menos GEE; liberar o ralo é sequestrar GEE. Enquanto um reduz o fluxo, o outro tira o estoque, respectivamente.
Acontece que o volume de água saindo da nossa torneira é muito, mas muito maior do que o ralo consegue liberar. Por isso a corrida contra o tempo.
Tendo feito esse preâmbulo, apresento a vocês o meu novo mapa de climate-tech:
É um mapa adaptado às diversas versões (algumas delas eu incluí no final desse post) existentes no mercado, e um frame que funciona bem para a minha cabeça, e minha forma de pensar:
Primeiro, ele considera as tecnologias climáticas necessárias para reduzir tanto o estoque de carbono como o fluxo de carbono. Ele também considera as diferenças entre as tecnologias procurando endereçar os desafios de mitigação versus adaptação; e ele considera a camada de tecnologias que serão necessárias para habilitar o resto.
Além disso, o mapa vai de soft-tech (software) para hard-tech (hardware) e as cores das caixinhas representam os diversos “macro-setores”. Algumas observações:
1. Para reduzir o estoque de água (GEE) na banheira, vamos precisar de muito mais ciência e tecnologia. Apesar de ter meios para reduzir o fluxo de GEE através de eficiência energética e cada vez mais, armazenamento de energia, isso ainda representa pouco. A maior parte do trabalho ainda depende de ciência e tecnologia. Assim sendo, Climate-tech depende de um ecossistema fortalecido - público e privado - de ciência e tecnologia (alerta para o Brasil).
2. Isso também se concretiza quando falamos das soluções baseadas na Natureza (falarei mais sobre isso no futuro). Por mais que entendemos que a Natureza tem uma capacidade enorme de reduzir o estoque de carbono na atmosfera, a metrificação e monitoramento disso é hoje, o maior desafio. Mesmo quando falamos em “só” plantar árvores, precisaremos de muita ciência e tecnologia.
3. O Brasil joga, e pode jogar cada vez mais em muitas dessas caixinhas. Já identificou a sua?
No proximo post falarei sobre o custo (altíssimo) dessa transição. Fiquem no aguardo!
Referencias de outros frames de Climate-tech:
[do David Rusenko]
[da Sam Smith-Eppsteiner]
[do Himanshu Gupta do Climate.ai]
[do Pitchbook]
[da PWC]